2018
av. afonso pena, 2351, centro,
belo horizonte
mg
brasil
ouvir
memoriando, de alexandre salles












Esse prédio é um portal para história da violência e repressão no Brasil ontem e hoje, amanhã talvez não. Atravessar requer coragem? Voltar a ele é fundamental. Porque não esquecer essa história? Haverá paz nesse esquecimento? Entrar nesse templo de repressão. Um lugar conhecido de todas nós, mesmo que a gilete não tenha talhado a sua pele, você nunca tenha virado o olho ou tapado os ouvidos ou emudecido ao ouvir pau-de-arara, choque elétrico, tiro pro alto, bala perdida, lambada de sete dias, pelourinho, medo de sirene. Se você está na América, esse lugar te pertence. Você pertence a essa história. Asco ânsia de vômito medo confusão mental tapa o umbigo, aconselhou a amiga, pra entrar aqui tem que tapar o umbigo com um tufo de algodão. Pesadelos acometem a gente que entra lá. Pesadelos acontecem quando a gente não entra lá. Refluxo azedo de tempo indigesto. Um redemoinho se enrosca sobre si mesmo. A face não tão oculta do terror. Repetição. Golpe sobre golpe. Acordões. Acordados demais.
Em outubro de 2018, artistas de diversas linguagens nos reunimos para uma residência artística na Av. Afonso Pena, 2351, em Belo Horizonte - edifício construído em 1958 para abrigar o DOPS MG, polícia política criada em 1924 e amplamente utilizada pela ditadura militar brasileira. Departamento de Ordem Política e Social de Minas Gerais, é o nome por extenso. Durante a ditadura militar, o DOPS foi um dos principais órgãos de repressão aos opositores do regime, fazendo uso sistemático de especializados métodos de tortura, desaparecimento e perseguição.
Trata-se de “condignas instalações, que são modelo de bom gosto e arte arquitetônica moderna”, foi o que disse o então governador de Minas Gerais, Bias Fortes, no ano de inauguração do DOPS.
Esse mesmo prédio abrigou ininterruptamente diversos órgãos de repressão e policiamento até 2013, hoje o prédio é tombado pelo patrimônio histórico e cultural, e destinado a para abrigar o Memorial dos Direitos Humanos, ainda não aberto ao público.
Nesse tempo e espaço se deram encontros que impulsionam e alimentam a pesquisa no projeto Transe - À Comissão da Verdade de Minas Gerais, Emely Vieira, Alexandre Salles, Ronald Rocha, nossos agradecimentos primeiros.
banho de sol
artistas residentes
Amaury Borges
Ana Sanders
Alexandre Salles
Bernardo Silvino
Bruna Chiaradia
Camila Magalhães
Ciber Org
Elba Rocha
Igor Cerqueira
Lorena Braga
Lucas Amorim
Marconi Marques
Marco Antônio Gonçalves
Marcos Mateus
Natália Jacintina
Paula Libéria
Roberta Silvestre
Rodrigo Antero
A residência integrou as atividades da II Mostra de Direitos Humanos.
documento #1
filme em processo, realizado durante a residência banho de sol




2019
rua pitangui,3613, horto,
belo horizonte
mg
brasil
transe
cena curta dedicada à emely vieira e herculano salazar
registro da cena curta TRANSE, gravação cedida pelo CPMT do Galpão Cine Horto

29/03/2019
Primeiro encontro do projeto TRANSE.
07/07/2019
apresentação do rascunho de cena TRANSE 8 minutos
29/10/2019
apresentação da cena curta TRANSE 15 minutos
No subterrâneo de um país da América latina, prepara-se um canto fúnebre que será levado à praça pública.
trechos de um projeto-manifesto do que se vislumbrava para o Transe no início de 2019.
Transe é o primeiro experimento de uma pesquisa a partir do roteiro e filme Terra em Transe, de Glauber Rocha. O ponto de partida é um recorte dos poemas que integram o roteiro, de autoria de Glauber e Mário Faustino. Aos poemas, soma-se a imagem de uma Antígona do Terceyro Mundo, que não aceita a possibilidade de um luto reservado: desenterra os mortos e quer fazer o luto publicamente. Essa Antígona desobedece ao rei, recusa a pecha de clandestina - estará em praça pública, fazendo seu luto na certeza de que o morto pertence à cidade, e não ao seu núcleo familiar privado. A morte é pública. Antígona furiosa, como sugere a dramaturga argentina Griselda Gambaro.
Como a personagem grega, a imagem dessa mulher é a de uma enviada viva ao mundo dos mortos. Ela se recusa a morrer, e existe entre vida e morte, no país Eldorado, onde o cadáver do irmão apodrece a céu aberto.
Recorremos aos procedimentos dos rituais fúnebres do povo Bororó, etnia originária do território hoje ocupado pelo estado de Mato Grosso, como referência simbólica, material e filosófica, para pensar o luto e o choro como atos públicos, necessários à restauração das nossa relações coletivas.
"Pode parecer paradoxal, mas é exatamente por meio do funeral que a sociedade Bororo reafirma a vitalidade de sua cultura. (...) Mas por que fazer de um momento de perda, como a morte de uma pessoa, um momento de reafirmação cultural e até mesmo de recriação da vida?”
Sylvia Caiuby Novaes
Esse experimento dá continuidade à pesquisa da Maldita Cia de Investigação Teatral a respeito das comissões da verdade na América Latina, iniciada durante a criação do espetáculo Maxilar Viril em 2014.
Em 2018 o grupo orientou a residência artística “Banho de Sol”, no prédio onde funcionou o Departamento de Ordem Política e Social em Belo Horizonte. Durante 04 semanas, ouvimos algumas das histórias testemunhadas pelas paredes daquele lugar, em sua longa e histórica trajetória de casa de repressão. Ouvimos os escritos nas paredes, os vestígios de instrumentos de tortura, restos de documentos, falas de mulheres e homens que estiveram presas e de homens que prenderam. O contato direto com essas memórias nos coloca em estado de transe.
Como abordar essa ferida aberta, politicamente tão intricada, que está enraizada nas práticas econômicas e culturais mais antigas de exploração das riquezas na América Latina, e que tem consequências diretas no cotidiano que vivemos? O que a arte tem a dizer ou fazer diante desse sistema de esquecimento, violência e usurpação? Ou, de um modo mais amplo: Como construir um destino a partir do absurdo?
“A experiência é minha, mas a história é do povo”
Diz Emely Vieira, psicóloga, professora de direitos humanos, membro da comissão da verdade de minas gerais, colaboradora do projeto Transe, que atua em cena como cantora e convidada.
2020
da rua januária ao youtube.com
ouvir
ensaio aberto, trecho de leitura do cap. 3 do relatório da comissão da verdade em mg







14/02/2020
Ensaio aberto: Primeira leitura radiofônica do capítulo 3 do relatório da comissão da verdade em Minas Gerais, na Funarte MG
09/05/1970
Emely Vieira é presa pelo DOPS MG
09/05/2020
Previsão de estreia de TRANSE, em uma ocupação performática que pretendia percorrer os arredores do Galpão Cine Horto, até adentrar o teatro Wanda Fernandes.
17/03/2020
Decreto nº 17.297, de 17 de março de 2020.
Declara situação anormal, caracterizada como Situação de Emergência em Saúde Pública, no Município de Belo Horizonte.
20/03/2020
primeiro ensaio online de TRANSE, via google meet.
29/10/2020
Transmissão de TRANSE -PROGRAMA#1, pelo youtube
O “esquecimento” da tortura produz, a meu ver, a naturalização da violência como grave sintoma social no Brasil. - Maria Rita Khel
Abrir os portões do DOPS, adentrá-lo, atravessar esse portal, deparar-se com milhares de documentos, as histórias de todas nós entrelaçadas nesse prédio. Da pergunta inicial, aquela que te leva até a porta, milhares outras se desatam, gritam as urgências: E os 80 tiros? E as pessoas que votaram nele? Não tem negras nessa lista? Quem não tem tido o direito de falar sobre essa história? Como evidenciar o elo entre o passado, o presente e o futuro? E os 446 mil mortos? Afinal, já estamos em 2020.
De tudo que é impossível conter em uma obra, escolhemos que a pesquisa se oriente pelo capítulo 3 do Relatório da Comissão da Verdade de Minas Gerais "Tortura e violência institucional aos opositores à ditadura em Minas Gerais". Exercitamos ler esse documento com os olhos do agora e desejos de futuro, guiadas pela vibração da voz e presença de Emely Vieira.
"A tortura é inerente ao todo colonialista"- Franz Fanon
Feita essa escolha, a pandemia atravessou nossas vidas e, como não poderia deixar de ser, atravessa também os dizeres e modos de fazer de TRANSE.
1964 - 2020
Você sabia que os calendários de 1964 e 2020 são absolutamente iguais? Até mesmo os dias da semana coincidem com as datas. Se quiser, você pode usar o calendário de 1964 em 2020.
capítulo 3
tortura e violência institucional aos opositores da ditadura em Minas Gerais
3.1 Introdução
3.2 O conceito de tortura e o trabalho com as vítimas
3.3 O agente da tortura
3.4 O trabalho com as fontes
3.5 Os limites do trabalho
3.6 A institucionalização da tortura
( a violência por gênero, pg 193 )
3.7 Depoimentos das vítimas
3.8 Conclusões
ANEXO A
Lista de nomes de presos políticos 1964-1981
ANEXO B
Lista de agentes públicos denunciados como torturadores
ANEXO C
Cópia de uma das Cartas de Linhares, como são conhecidas, datada em 19 de dezembro de 1969, assinada pelos integrantes do Colina.
ANEXO D
Cópia de uma das Cartas de Linhares, como são conhecidas, datada em dezembro de 1969, assinada pelos integrantes da Corrente.
ANEXO E
Quantitativo de vítimas por organizações da sociedade civil.
http://www.comissaodaverdade.mg.gov.br/
registro da primeira transmissão de TRANSE - PROGRAMA #1
2021
trabalho em processo
edição a partir da transmissão ao vivo feita em 26 de novembro de 2020

TRANSE segue em processo de criação, acompanhe nas redes: