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cena 3x4 2024 retratos
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Está aberta a temporada para conferir os espetáculos da edição 2024 do Cena 3x4!

Entre os dia 14 de novembro e 6 de dezembro, a rede de compartilhamento entre os grupos de teatro traz ao público apresentações gratuitas em diversos espaços de Belo Horizonte.

Confira a programação:

”Fia Feia de Delegado”, do grupo Morro Encena

Acessibilidade: Libras
🗓️ 14 de novembro às 20h
🗓️ 15 de novembro às 17h
📍: Mirantinho Bar - Rua Bela Vista 14, Praça do Cafezal

🗓️ 16 de novembro às 17h
📍: Bar “Para aqui Rapidim” - Rua Doutor Camilo, 504 (embaixo da Caixa d’água)

“Capítulo 3: nem meu nome eu falo hoje”, da Maldita Cia. de Investigação Teatral 

Acessibilidade: Libras
🗓️ 17 de novembro às 11h e às 16h30
📍: Galpão Cine Horto - Rua Pitangui, 3.613 - Horto
🎟️ Retire o seu ingresso antecipado no site Sympla ou 1h antes de cada sessão na bilheteria do teatro.

“HA!”, do grupo Artilharia Cênica 

Acessibilidade: Audiodescrição
🗓️ 30 de novembro e 01 de dezembro às 15h
📍: Praça dos Patins - Parque Municipal Américo Renné Giannetti (ao lado do Teatro Francisco Nunes) - Av. Afonso Pena, 1377 - Centro

“Antes Ele do que Eu!”, Cia El Individuo & Grupo Caras Pintadas

Acessibilidade: Audiodescrição
🗓️ 05 de dezembro às 20h
📍: Teatro Espanca! - Rua Aarão Reis, 542 - Centro

🗓️ 06 de dezembro às 14h
📍: Centro Cultural São Bernardo - Rua Édna Quintel, 320 - São Bernardo

Todas as atrações são gratuitas. 
 

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saiba mais sore 3x4

O Cena 3x4 é uma rede de formação, criação e compartilhamento entre coletivos das artes da cena. Criado em 2002, através de parceria entre Maldita Cia. de Investigação Teatral e o Galpão Cine Horto, resultante do desejo em comum de experimentar princípios do processo de criação colaborativa e estabelecer uma rede de qualificação e fomento da linguagem de teatro de grupo em Belo Horizonte. 

 

A cada edição, quatro coletivos participam de uma série de diálogos e encontros entre criadores e pensadores, enquanto compartilham seus processos de criação de uma obra de dramaturgia própria, a partir de princípios de processo de criação colaborativa.

Em suas primeiras 4 edições Cena 3x4 contribuiu para o fortalecimento das linguagens do teatro de grupo na cidade, fomentando coletivos como a Cia. Luna Lunera, Labapi, Teatro Invertido, Grupo Trama, Teatro Andante, Armatrux, a própria Maldita Cia, entre outros. 

A partir de 2006, a Maldita Cia. ministrou oficinas sobre processos de criação colaborativos e experimentou princípios de colaboração em todos os seus trabalhos. Em 2024 retomamos o Cena 3X4, com participação dos grupos Morro Encena, Maldita Cia, Caras Pintadas & Cia El Individuo, Artilharia Cênica.

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Retratos de processo
Cena 3x4 2024

Durante de nossos 6 meses de criação e compartilhamento, colecionamos aqui retratos_relatos dos processos Cena 3x4, e de cada grupo. Uma prática de memória, re-flexão e publicização dos caminhos da criação.

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 Cena 3x4 - 1º Encontrão

outono 

Por Ricardo Carvalho de Figueiredo 

 

Início dos trabalhos do 1º Encontrão Cena 3x4

    O 1º Encontrão do projeto Cena 3x4, edição 2024, aconteceu no dia 11 de maio de 2024, em um sábado ensolarado de outono.
   Enquanto os membros de cada grupo vinham chegando à sede do Galpão Cine Horto, local de encontro de grupos, pessoas de teatro e da comunidade, as primeiras trocas foram sendo tecidas. Artistas que já se conheciam da cidade de Belo Horizonte, artistas com mais ou menos tempo de criação teatral, mas todos com risos largos e vontade de iniciar um projeto de criação a partir do modo colaborativo.
   Amaury Borges, integrante da Maldita Cia. de Investigação Teatral, e anfitrião do 1º Encontrão, dando as boas vindas aos demais três grupos participantes da Edição Cena 3x4 2024, hasteou o totem do projeto e proferiu uma singela fala sobre o poder do território, noção que tem como elemento chave para 2024 as trocas, materiais e simbólicas, dos coletivos participantes em seus territórios de criação. 
  O Cine Horto, nesse contexto, tem significativa importância. O apoio e fomento a grupos advindos de várias configurações, mas que têm o coletivo como eixo da criação teatral. 
Amaury trouxe parte de sua história de vida, pois nascido em Cuiabá / Mato Grosso aprendeu, desde cedo com seus familiares, a importância do outro, com seus saberes transmitidos pelo exemplo e pela cultura oral. Esse mote, reavivou a retomada de uma canção proferida por ele aos presentes: “Pega no meu coração.”

  Entoados pela canção, ao mesmo tempo era um levante para que, em tempos de descrença no outro e de exacerbado individualismo, pudéssemos olhar para o teatro e a força que o coletivo traz para a criação compartilhada. Fizemos, então, uma caminhada do Galpão Cine Horto até à sede do Grupo Galpão, onde permanecemos durante todo aquele dia.
Adentrar a sede de um grupo de teatro, quando não é para a ocasião de um espetáculo, é muito especial. Ao chegarmos, nos deparamos com cenário, objetos de cena e sim, com a energia de um grupo que se mantém ativo desde os tempos da ditadura militar no país, já que o Grupo Galpão teve sua gênese no início da década de 1980. Ali, estão presentes muitos elementos simbólicos do trabalho do grupo. Há suor e vibração criativa, como diria Aderbal Freire Filho.
Cada integrante dos coletivos presentes fez uma breve apresentação de si. Destacou o modo de pertencimento ao coletivo, interesse e confluência junto ao seu grupo, além de falar sobre a função exercida nos processos de criação de espetáculos anteriores e a sua função para o atual projeto.

 

Os grupos e suas propostas


O terceiro momento do encontro propôs que cada coletivo falasse sobre os seus caminhos e procedimentos de criação. Vamos conhecer como estão, inicialmente pensadas, as proposições de cada coletivo. 
O grupo Artilharia Cênica, nascido em 2018, sempre criou a dramaturgia dos espetáculos e ações performativas do repertório do grupo. Chamou-nos a atenção de que parte de seus membros são professores de teatro em instituições de ensino públicas e privadas em Belo Horizonte, conjugando o fazer teatral com a criação artística. 
A inscrição no projeto Cena 3x4 teve como propósito para o grupo, a intenção de criar um novo espetáculo para todas as idades e de rua. Algumas inquietações que sobrevoam o grupo no momento são: encaminhamento emocional da sociedade onde crianças já nascem imersas no mundo digital, expostas a uma infinidade de realidades virtuais; relação entre humano e máquina; Inteligência Artificial, dispositivos eletrônicos e economia da atenção. Previamente, o coletivo elegeu o conto “O homem da areia”, do alemão de Ernst Theodor Amadeus Hoffman como pré-texto para criação.
Morro Encena foi o segundo grupo a apresentar a sua proposta para a criação colaborativa. Com um histórico longevo, o grupo traz como referências de suas criações os Direitos Humanos e a realidade da periferia conjugado com as relações de gênero a partir da estética da favela. A proposta inicial do coletivo é partir do texto já encenado “Fia feia de delegado”, e criar um novo espetáculo, respeitando as premissas: investigar o território; a vivência de cada membro em todas as etapas do processo; confecção e o uso de máscaras. 
O grupo Caras Pintadas e Cia El Individuo iniciou seus trabalhos em 2009 como um teatro mambembe itinerante com foco no trabalho de rua e espaços alternativos. Algumas premissas do trabalho do coletivo são pautados pelos seguintes campos: musicalidade; mascaramento cênico; capoeira; corporeidades negras. A proposta  para 2024 é iniciada pelo texto “Defunto só presta morto”, de Fernando Limoeiro, unindo a linguagem da palhaçaria de rua e do circo-teatro. 
A Maldita Cia. De Investigação Teatral, anfitriã do projeto Cena 3x4 e quarto grupo participante da edição 2024, também estará em processo de criação e tem como inquietação, desde a sua fundação, o tensionamento das hierarquias presentes na criação teatral. Traz como mote para este ano a proposta de revisitar aquivos da ditadura a partir do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e dos relatórios da Comissão da Verdade, incluindo a participação de uma nulher aprisionada à época, como fonte e testemunha dos acontecimentos e resistências dos presos políticos.
Para fechar esse momento, os integrantes da Maldita Cia propuseram uma breve conversa sobre a criação em processo colaborativo, incluindo as experiências colhidas ao longo das edições anteriores do Cena 3x4. Há como premissa, a construção de uma dramaturgia própria, mantendo a manutenção e as relações vivas nas funções teatrais. 3 funções (atuação, dramaturgia e direção) e 4 coletivos (Artilharia Cênica, Morro Encena, Cara Pintada e Maldita Cia. de Investigação Teatral).

Proposições para a cena

    Tomando como lema que é na cena propriamente dita que as discussões e apostas se concretizam, os integrantes da Maldita propuseram aos coletivos a divisão por funções: dramaturgia, direção, atuação e produção. E o mais importante: cada função, a partir de denominadores comuns, proporia ao seu coletivo uma linha de experimentação na cena.
   Acompanhei o núcleo de dramaturgia, composto por cada dramaturgo/a de um dos coletivos. O provocador, Anderson Feliciano, responsável pela dramaturgia da Maldita Cia., propôs uma partilha dos modos de trabalho de cada dramaturgo/a, orientando algumas conversas que surgiram ao longo do diálogo. Foi um momento de troca sobre o modo como cada dramaturgo/a cria junto do em seu coletivo – um privilégio saber como cada criador trabalha, suas fontes de inspiração, estudo e interesses. 
   Retomado os grupos, cada núcleo de atores apresentou um esboço de cena aos presentes. Nós, espectadores/testemunhas, nos deparamos com imagens potentes trazidas pelos atores e um grau de experimentação típica de atores-pesquisadores que não se contentam com a primeira ideia, por mais que não a descartam como gênese da criação.
   Após a apresentação dos atores, os grupos se reuniram com os seus respetivos dramaturgos(as) e diretores(as), que propuseram, aos seus coletivos, uma nova experimentação sobre o que foi trazido pelos atores. 
   Novas e/ou aprofundadas experimentações voltaram para a cena, a partir da elaboração dos atores. Cabe ressaltar que cada coletivo, a partir da proposição inicial trazida para o projeto, apresenta os motes da criação para as cenas em experimentação, trazendo material a ser levantado para que os membros do coletivo, em suas respetivas funções, trabalhem sobre ela. E nós, espectadores/testemunhas, temos tido o privilégio de acompanhar os passos do processo e a possibilidade de comentar sobre o que temos visto. É um misto de generosidade e abertura que cada grupo se propôs ao entrar para o projeto. E cada coletivo saiu ainda com mais elementos para o trabalho de criação, nessa experimentação que conjuga o desejo de partilhar a criação colaborativamente.

 

 Cena 3x4 - 2º Encontrão

agosto / outono

Por Ricardo Carvalho de Figueiredo 

 

    O 2º Encontrão do projeto Cena 3x4, edição 2024, aconteceu entre os dias 10 e 11 de agosto de 2024, em um sábado e domingo de trocas e abertura de processos.
   Para esse 2º Encontrão foi combinado que cada coletivo apresentaria uma cena, em processo, de aproximadamente 30 minutos. Durante o período da manhã do dia 10/08/2024, cada coletivo apresentou a sua cena. Na tarde do mesmo dia, cada grupo trouxe apontamentos sobre a cena vista de outro coletivo. E na manhã do domingo, os integrantes dos coletivos se dividiram por funções (atuação, dramaturgia e direção) e partilharam modos de criação de acordo com as especificidades de cada uma.

Manhã do dia 10/08 e a mostra em processo de cada coletivo


    O primeiro coletivo a se apresentar foi o Grupo Caras Pintadas e El Individuo, coletivos que se uniram para criar um espetáculo em conjunto. Em cena dois palhaços, ainda no camarim, onde se preparam para entrar em cena. Os palhaços apresentam gags e fazem uso da mímica corpórea e de improvisação para o desenvolvimento da cena. Os palhaços, em uma típica dinâmica entre Augusto e Branco, estabelecem relações antagônicas entre si, em interação que desperta humor e crítica social. 
Na sequência foi a vez do coletivo Artilharia Cênica mostrar a cena preparada por eles até então. Definiram, até esse momento, que a cena vai acontecer na rua e optaram por um trabalho sem o uso da fala. O coletivo ampliou o núcleo de atuação, agora com mais um membro nesta função, inteirando três pessoas e uma boneca. A dimensão onírica, e a exploração de momentos de sonhos e pesadelos da personagem boneca vieram à tona. Alguns acessórios de cena e figurino foram apresentados, como a máscara no rosto dos atores/manipuladores, que causou uma sensação no espectador que oscila entre a referência do “homem de areia” e a ideia de manipuladores de formas animadas.
O grupo Morro Encena trouxe como proposta três mulheres à espera uma da outra. Se percebem ao longo de um jogo de cena e, aos poucos, se encontram. Percebemos três momentos, ainda como um roteiro de cena: a chegada; o anúncio de ser teatro; a ação propriamente dita. Breves diálogos de pessoas que se conhecem e marcaram um encontro naquele espaço teatral: um bar na favela onde moram.
    A Maldita Cia. de Investigação Teatral dá início com uma transformação do espaço. Propõe uma remodelação do espaço e faz uso de dispositivos que mesclam fatos históricos, com recortes de jornal e revistas da que tratam da época da ditadura militar no Brasil e dados biográficos de uma sobrevivente desse período, envoltos por uma ação performativa. Um dos atuantes lê uma matéria de jornal, enquanto outra atuante faz uma ligação telefônica, que só é atendida na terceira tentativa, para a mulher sobrevivente da ditadura militar. Nessa conversa, nada de fala direta sobre aquele período, mas um pedido de que cante uma canção que goste e o aviso de que está sendo apreciada por um público no teatro.


Tarde do dia 10/08 e devolutiva dos grupos às apresentações


    Sobre o Grupo Caras Pintadas e El Individuo foi trazido o questionamento se no espaço do camarim, espaço teatral eleito para a cena entre os dois palhaços, há público ou não. Ou seja, a cena conta com a cumplicidade explícita da plateia? Estariam os dois palhaços se mostrando ao espectador como de fato são, nos bastidores, ou desde aquele momento o espectador já reconhece a personalidade de cada palhaço? Ou o inverso, afinal, os palhaços teriam uma personalidade no camarim e ao entrarem em cena, no contexto público, se revelariam distintos do que apresentaram até ali?
   Entre os comentários sobre o trabalho do grupo Artilharia Cênica, foi apontado quando os objetos em cena se tornam animados e a relação trazida para a boneca manipulada pelos atores que, agora, ganhou o gênero feminino. A aproximação do gênero da boneca com uma das atrizes/manipuladoras também foi uma surpresa e um elemento que trouxe uma nova camada para a cena em elaboração.
   Sobre o trabalho em processo das atrizes do Morro Encena, as próprias atrizes revelam que mostraram uma improvisação, já que ainda estão levantando material para a composição da cena. Há uma busca pela estética da favela, um caminho de investigação feito pelo coletivo que vem levantado essa discussão em seus últimos trabalhos. 
   Sobre esses corpos em cena, questionamentos são trazidos ao coletivo, tais como: qual a máscara social da sociedade para a mulher da favela? Por que as pessoas pagam uma cerveja e não pagam um ingresso para o teatro?
   Em relação ao trabalho da Maldita Cia. de Investigação Teatral há depoimentos dos espectadores sobre a tensão gerada no telefonema quando percebemos que aquela ligação não iria ser atendida. Quais dispositivos aproximam o coletivo do material apresentado? Quais escolher para compartilhar com o espectador? E de que maneira as experiências pessoais ecoam na história coletiva?
   Essa “presentação” coloca em cheque o papel do espectador tirando-nos do mero papel de observador para nos colocar como testemunhas. E surge a indagação: qual o papel político de cada espectador em nossa históriapolítica recente, que se faz presente diante dos nossos corpos? E para o grupo, qual o papel do espectador na retomada/reapresentação dessa narrativa?


Manhã do dia 11/08 e a divisão das funções teatrais


    A Maldita Cia. de Investigação Teatral, condutora do projeto, trouxe para esta manhã a divisão por funções teatrais: atuação, dramaturgia e direção. A ideia é de fortalecer cada função na tomada de decisão para os encaminhamentos do processo, já que os coletivos farão a abertura de seus trabalhos ao público geral em novembro de 2024. O encontro por funções também tem o intuito de fortalecer as premissas de trabalho das respectivas áreas, verticalizando as funções. Pude acompanhar o núcleo de atuação, coordenado por Elba Rocha.
    As atrizes do Morro Encena compartilharam sobre a sabedoria do tempo e a qualidade de como usarem, a partir de agora, o tempo que possuem para a criação cênica com a dinâmica da vida, já que cada uma se desdobra em tarefas diversas, conjuntamente com o trabalho de atriz. 
Uma das atrizes trouxe a angústia sobre não possuir personagem, e sentir falta do texto, fazendo com que se sinta deslocada e pouco propositiva na criação. Essa percepção é interessante por revelar um aspecto da criação colaborativa em que o texto/personagem não necessariamente está desde o início do processo. A ausência de texto ou personagem desde o início do processo é angustiante para muitos atores, principalmente para aqueles que se formaram em processos em que a personagem é o eixo do seu trabalho. E se veem deslocados até o momento de encontrarem a personagem. 
     O Artilharia Cênica incorporou na atuação uma nova atriz, que ampliou o trabalho atoral, permitindo novas dinâmicas na manipulação dos objetos a serem animados. Perceberam, com a entrada da nova atriz, uma potencialidade sonora para o espetáculo, dada a expertise dela nessa área. Esse é outro dado interessante da criação colaborativa por permitir, ou evocar, as potencialidades de cada criador dentro do processo. As habilidades construídas e trazidas por cada pessoa no processo ganha em dimensão e evidencia o eco criador de cada integrante do coletivo.
      Os atores dos grupos Caras Pintadas e El Individuo disseram da experimentação pela relação entre os atores para este trabalho, assim como no levantamento do material para a cena, buscando repertório atoral no diálogo com a dramaturgia. Dramaturgia essa já elaborada e que, segundo os atores, é uma camada que não surpreenderá o núcleo de atuação, já que ao não fazerem o uso da palavra estão explorando a mímica e gags dos palhaços. 
       Os atores da Maldita Cia. de Investigação Teatral falaram do programa performativo que coloca em risco esse tipo de atuação e o quanto a música tem sido explorada como um dado de sobrevivência, tal como o foi no cantarolar da senhora que recebeu a ligação. Em termos de reparação histórica mostraram o quanto a denúncia ao torturador, trazida nas reportagens apresentadas e lidas durante a mostra, é uma escolha política do coletivo. Outros atores falaram dessa preocupação e possibilidade de represália, nos dias atuais, ao reapresentar o torturador da época. Uma questão se apresenta aos artistas de agora: existe arte sem risco?

 1. As gags de palhaços são esquetes cômicas curtas e visuais, projetadas para provocar risos através de ações exageradas, situações absurdas e humor físico. Elas são uma parte essencial da arte do palhaço, combinando elementos de mímica e improvisação. 

2.  Os palhaços Augusto e Branco são dois arquétipos clássicos na arte da palhaçaria, cada um com características distintas que contribuem para a dinâmica e comicidade apresentadas.

Palavras finais (mas não finalizadas)


Anderson Feliciano, dramaturgo da Maldita Cia. de Investigação Teatral compartilhou com os presentes algumas propostas que ampliam a noção de dramaturgia a fim de potencializar para os coletivos algumas escolhas nesse caminhar final, que vai ao encontro do espectador. 
Foi bonito participar da discussão de cada cena, por conhecer os meandros de elaboração da mesma, assim como a ideia de cada encenação no trabalho em construção (working in process).
As indagações trazidas por artistas aos coletivos dizem respeito de várias ordens, desde a escolha mais consciente de encaminhamentos dramatúrgicos, quanto do apontamento de caminhos para a encenação que está a cada encontro afinando o material que será partilhado com o grande público.
Os momentos de partilha e generosidade de cada coletivo, ao abrir seu processo e ouvir apontamentos sobre o que mostrou, revelam o quanto a força do trabalho coletivo implica escuta, escolhas e aposta de que o melhor para o trabalho tem sido feito, no tempo e condições presentes.
Vamos aguardar o que está prestes a surgir.


Evoé!
 

artilharia cênica

outono_ maio 

A CRIAÇÃO – Mês de MAIO de 2024

Até o momento, todos os nossos projetos artísticos foram direcionados ao público adulto. No entanto, há pelo menos um ano, nutrimos dois desejos que se relacionam: criar uma produção para todas as idades e conceber um espetáculo de rua. Com esses objetivos em mente, iniciamos uma jornada de pesquisa e exploração sobre possíveis temas que desejávamos abordar artisticamente, e chegamos em alguns questionamentos cada vez mais urgentes para nós: para onde estamos nos encaminhando emocionalmente em uma sociedade onde as crianças já nascem imersas em um mundo digital, expostas a uma infinidade de telas e realidades virtuais? Qual é o custo, presente ou futuro, de investir tanto em uma existência online? Até que ponto estamos dispostos a explorar a fusão entre humanos e máquinas?

Explorando os temas que orbitam essas indagações - como máquinas, robótica, inteligência artificial, dispositivos eletrônicos e a economia da atenção - nos deparamos com um conto de E. T. A. Hoffmann, escritor alemão do século XIX, intitulado "O Homem da Areia" (1887). Surpreendentemente, mesmo escrito há 137 anos, o conto já abordava a paixão de um dos personagens por um autômato, um dispositivo com aparência humana. Fascinados pelas inúmeras possibilidades dramatúrgicas que esse conto proporciona e pelas ilustrações provocativas de Eduardo Berliner na edição mais recente, percebemos imediatamente a oportunidade de incorporar técnicas do teatro de formas animadas ao nosso trabalho para representar personagens, formas ou situações inspiradas no conto.

Um dos integrantes do grupo traz consigo tanto experiências acadêmicas quanto práticas no campo do teatro de formas animadas, incluindo um espetáculo com a renomada artista Eros P. Galvão. Certo dia, este integrante fez a proposta de que Eros, diretora, atriz, manipuladora de bonecos e bailarina da Cie Les Trois Clés, assumisse a direção deste processo de criação cênica. Tanto ela quanto os demais membros do grupo acolheram a ideia com entusiasmo, e agora ela se junta a nós para dar vida a este projeto de criação, que está ganhando cada vez mais forma e substância.

O conto fantástico de Hoffmann, "O Homem da Areia", servirá como uma das referências para nossas criações textuais, movimentos e visualidades. Sua narrativa surrealista e

fantástica estimula nossos sentidos, emoções e imaginação de uma forma singular, e é exatamente essa atmosfera que buscamos trazer para a cena e para a relação com nossos públicos.

outono_ junho 

inverno_ julho