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Retratos de processo Cena 3x4 2024

cena 3x4 2024 retratos
índice retratos maio

Retratos finais

verão

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Textos de finalização dos processos de cada grupo no Cena 3x4, e o relato de Ricardo Carvalho de Figueiredo sobre os trabalhos.

Diários de processo

de outono a primavera

Registros feitos ao longo dos 6 meses de dos processos de criação e compartilhamento, do  Cena 3x4 2024. Uma prática de memória, re-flexão e publicização dos caminhos da criação.

 Cena 3x4 - 1º Encontrão

outono 

encontrao maio foto Maldita CiaIMG_0870.HEIC

Por Ricardo Carvalho de Figueiredo 

 

Início dos trabalhos do 1º Encontrão Cena 3x4

    O 1º Encontrão do projeto Cena 3x4, edição 2024, aconteceu no dia 11 de maio de 2024, em um sábado ensolarado de outono.
   Enquanto os membros de cada grupo vinham chegando à sede do Galpão Cine Horto, local de encontro de grupos, pessoas de teatro e da comunidade, as primeiras trocas foram sendo tecidas. Artistas que já se conheciam da cidade de Belo Horizonte, artistas com mais ou menos tempo de criação teatral, mas todos com risos largos e vontade de iniciar um projeto de criação a partir do modo colaborativo.
   Amaury Borges, integrante da Maldita Cia. de Investigação Teatral, e anfitrião do 1º Encontrão, dando as boas vindas aos demais três grupos participantes da Edição Cena 3x4 2024, hasteou o totem do projeto e proferiu uma singela fala sobre o poder do território, noção que tem como elemento chave para 2024 as trocas, materiais e simbólicas, dos coletivos participantes em seus territórios de criação. 
  O Cine Horto, nesse contexto, tem significativa importância. O apoio e fomento a grupos advindos de várias configurações, mas que têm o coletivo como eixo da criação teatral. 
Amaury trouxe parte de sua história de vida, pois nascido em Cuiabá / Mato Grosso aprendeu, desde cedo com seus familiares, a importância do outro, com seus saberes transmitidos pelo exemplo e pela cultura oral. Esse mote, reavivou a retomada de uma canção proferida por ele aos presentes: “Pega no meu coração.”

  Entoados pela canção, ao mesmo tempo era um levante para que, em tempos de descrença no outro e de exacerbado individualismo, pudéssemos olhar para o teatro e a força que o coletivo traz para a criação compartilhada. Fizemos, então, uma caminhada do Galpão Cine Horto até à sede do Grupo Galpão, onde permanecemos durante todo aquele dia.
Adentrar a sede de um grupo de teatro, quando não é para a ocasião de um espetáculo, é muito especial. Ao chegarmos, nos deparamos com cenário, objetos de cena e sim, com a energia de um grupo que se mantém ativo desde os tempos da ditadura militar no país, já que o Grupo Galpão teve sua gênese no início da década de 1980. Ali, estão presentes muitos elementos simbólicos do trabalho do grupo. Há suor e vibração criativa, como diria Aderbal Freire Filho.
Cada integrante dos coletivos presentes fez uma breve apresentação de si. Destacou o modo de pertencimento ao coletivo, interesse e confluência junto ao seu grupo, além de falar sobre a função exercida nos processos de criação de espetáculos anteriores e a sua função para o atual projeto.

 

Os grupos e suas propostas


O terceiro momento do encontro propôs que cada coletivo falasse sobre os seus caminhos e procedimentos de criação. Vamos conhecer como estão, inicialmente pensadas, as proposições de cada coletivo. 
O grupo Artilharia Cênica, nascido em 2018, sempre criou a dramaturgia dos espetáculos e ações performativas do repertório do grupo. Chamou-nos a atenção de que parte de seus membros são professores de teatro em instituições de ensino públicas e privadas em Belo Horizonte, conjugando o fazer teatral com a criação artística. 
A inscrição no projeto Cena 3x4 teve como propósito para o grupo, a intenção de criar um novo espetáculo para todas as idades e de rua. Algumas inquietações que sobrevoam o grupo no momento são: encaminhamento emocional da sociedade onde crianças já nascem imersas no mundo digital, expostas a uma infinidade de realidades virtuais; relação entre humano e máquina; Inteligência Artificial, dispositivos eletrônicos e economia da atenção. Previamente, o coletivo elegeu o conto “O homem da areia”, do alemão de Ernst Theodor Amadeus Hoffman como pré-texto para criação.
Morro Encena foi o segundo grupo a apresentar a sua proposta para a criação colaborativa. Com um histórico longevo, o grupo traz como referências de suas criações os Direitos Humanos e a realidade da periferia conjugado com as relações de gênero a partir da estética da favela. A proposta inicial do coletivo é partir do texto já encenado “Fia feia de delegado”, e criar um novo espetáculo, respeitando as premissas: investigar o território; a vivência de cada membro em todas as etapas do processo; confecção e o uso de máscaras. 
O grupo Caras Pintadas e Cia El Individuo iniciou seus trabalhos em 2009 como um teatro mambembe itinerante com foco no trabalho de rua e espaços alternativos. Algumas premissas do trabalho do coletivo são pautados pelos seguintes campos: musicalidade; mascaramento cênico; capoeira; corporeidades negras. A proposta  para 2024 é iniciada pelo texto “Defunto só presta morto”, de Fernando Limoeiro, unindo a linguagem da palhaçaria de rua e do circo-teatro. 
A Maldita Cia. De Investigação Teatral, anfitriã do projeto Cena 3x4 e quarto grupo participante da edição 2024, também estará em processo de criação e tem como inquietação, desde a sua fundação, o tensionamento das hierarquias presentes na criação teatral. Traz como mote para este ano a proposta de revisitar aquivos da ditadura a partir do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e dos relatórios da Comissão da Verdade, incluindo a participação de uma nulher aprisionada à época, como fonte e testemunha dos acontecimentos e resistências dos presos políticos.
Para fechar esse momento, os integrantes da Maldita Cia propuseram uma breve conversa sobre a criação em processo colaborativo, incluindo as experiências colhidas ao longo das edições anteriores do Cena 3x4. Há como premissa, a construção de uma dramaturgia própria, mantendo a manutenção e as relações vivas nas funções teatrais. 3 funções (atuação, dramaturgia e direção) e 4 coletivos (Artilharia Cênica, Morro Encena, Cara Pintada e Maldita Cia. de Investigação Teatral).

Proposições para a cena

    Tomando como lema que é na cena propriamente dita que as discussões e apostas se concretizam, os integrantes da Maldita propuseram aos coletivos a divisão por funções: dramaturgia, direção, atuação e produção. E o mais importante: cada função, a partir de denominadores comuns, proporia ao seu coletivo uma linha de experimentação na cena.
   Acompanhei o núcleo de dramaturgia, composto por cada dramaturgo/a de um dos coletivos. O provocador, Anderson Feliciano, responsável pela dramaturgia da Maldita Cia., propôs uma partilha dos modos de trabalho de cada dramaturgo/a, orientando algumas conversas que surgiram ao longo do diálogo. Foi um momento de troca sobre o modo como cada dramaturgo/a cria junto do em seu coletivo – um privilégio saber como cada criador trabalha, suas fontes de inspiração, estudo e interesses. 
   Retomado os grupos, cada núcleo de atores apresentou um esboço de cena aos presentes. Nós, espectadores/testemunhas, nos deparamos com imagens potentes trazidas pelos atores e um grau de experimentação típica de atores-pesquisadores que não se contentam com a primeira ideia, por mais que não a descartam como gênese da criação.
   Após a apresentação dos atores, os grupos se reuniram com os seus respetivos dramaturgos(as) e diretores(as), que propuseram, aos seus coletivos, uma nova experimentação sobre o que foi trazido pelos atores. 
   Novas e/ou aprofundadas experimentações voltaram para a cena, a partir da elaboração dos atores. Cabe ressaltar que cada coletivo, a partir da proposição inicial trazida para o projeto, apresenta os motes da criação para as cenas em experimentação, trazendo material a ser levantado para que os membros do coletivo, em suas respetivas funções, trabalhem sobre ela. E nós, espectadores/testemunhas, temos tido o privilégio de acompanhar os passos do processo e a possibilidade de comentar sobre o que temos visto. É um misto de generosidade e abertura que cada grupo se propôs ao entrar para o projeto. E cada coletivo saiu ainda com mais elementos para o trabalho de criação, nessa experimentação que conjuga o desejo de partilhar a criação colaborativamente.

 

 Cena 3x4 - 2º Encontrão

agosto / outono

Por Ricardo Carvalho de Figueiredo 

 

    O 2º Encontrão do projeto Cena 3x4, edição 2024, aconteceu entre os dias 10 e 11 de agosto de 2024, em um sábado e domingo de trocas e abertura de processos.
   Para esse 2º Encontrão foi combinado que cada coletivo apresentaria uma cena, em processo, de aproximadamente 30 minutos. Durante o período da manhã do dia 10/08/2024, cada coletivo apresentou a sua cena. Na tarde do mesmo dia, cada grupo trouxe apontamentos sobre a cena vista de outro coletivo. E na manhã do domingo, os integrantes dos coletivos se dividiram por funções (atuação, dramaturgia e direção) e partilharam modos de criação de acordo com as especificidades de cada uma.

Manhã do dia 10/08 e a mostra em processo de cada coletivo


    O primeiro coletivo a se apresentar foi o Grupo Caras Pintadas e El Individuo, coletivos que se uniram para criar um espetáculo em conjunto. Em cena dois palhaços, ainda no camarim, onde se preparam para entrar em cena. Os palhaços apresentam gags e fazem uso da mímica corpórea e de improvisação para o desenvolvimento da cena. Os palhaços, em uma típica dinâmica entre Augusto e Branco, estabelecem relações antagônicas entre si, em interação que desperta humor e crítica social. 
Na sequência foi a vez do coletivo Artilharia Cênica mostrar a cena preparada por eles até então. Definiram, até esse momento, que a cena vai acontecer na rua e optaram por um trabalho sem o uso da fala. O coletivo ampliou o núcleo de atuação, agora com mais um membro nesta função, inteirando três pessoas e uma boneca. A dimensão onírica, e a exploração de momentos de sonhos e pesadelos da personagem boneca vieram à tona. Alguns acessórios de cena e figurino foram apresentados, como a máscara no rosto dos atores/manipuladores, que causou uma sensação no espectador que oscila entre a referência do “homem de areia” e a ideia de manipuladores de formas animadas.
O grupo Morro Encena trouxe como proposta três mulheres à espera uma da outra. Se percebem ao longo de um jogo de cena e, aos poucos, se encontram. Percebemos três momentos, ainda como um roteiro de cena: a chegada; o anúncio de ser teatro; a ação propriamente dita. Breves diálogos de pessoas que se conhecem e marcaram um encontro naquele espaço teatral: um bar na favela onde moram.
    A Maldita Cia. de Investigação Teatral dá início com uma transformação do espaço. Propõe uma remodelação do espaço e faz uso de dispositivos que mesclam fatos históricos, com recortes de jornal e revistas da que tratam da época da ditadura militar no Brasil e dados biográficos de uma sobrevivente desse período, envoltos por uma ação performativa. Um dos atuantes lê uma matéria de jornal, enquanto outra atuante faz uma ligação telefônica, que só é atendida na terceira tentativa, para a mulher sobrevivente da ditadura militar. Nessa conversa, nada de fala direta sobre aquele período, mas um pedido de que cante uma canção que goste e o aviso de que está sendo apreciada por um público no teatro.


Tarde do dia 10/08 e devolutiva dos grupos às apresentações


    Sobre o Grupo Caras Pintadas e El Individuo foi trazido o questionamento se no espaço do camarim, espaço teatral eleito para a cena entre os dois palhaços, há público ou não. Ou seja, a cena conta com a cumplicidade explícita da plateia? Estariam os dois palhaços se mostrando ao espectador como de fato são, nos bastidores, ou desde aquele momento o espectador já reconhece a personalidade de cada palhaço? Ou o inverso, afinal, os palhaços teriam uma personalidade no camarim e ao entrarem em cena, no contexto público, se revelariam distintos do que apresentaram até ali?
   Entre os comentários sobre o trabalho do grupo Artilharia Cênica, foi apontado quando os objetos em cena se tornam animados e a relação trazida para a boneca manipulada pelos atores que, agora, ganhou o gênero feminino. A aproximação do gênero da boneca com uma das atrizes/manipuladoras também foi uma surpresa e um elemento que trouxe uma nova camada para a cena em elaboração.
   Sobre o trabalho em processo das atrizes do Morro Encena, as próprias atrizes revelam que mostraram uma improvisação, já que ainda estão levantando material para a composição da cena. Há uma busca pela estética da favela, um caminho de investigação feito pelo coletivo que vem levantado essa discussão em seus últimos trabalhos. 
   Sobre esses corpos em cena, questionamentos são trazidos ao coletivo, tais como: qual a máscara social da sociedade para a mulher da favela? Por que as pessoas pagam uma cerveja e não pagam um ingresso para o teatro?
   Em relação ao trabalho da Maldita Cia. de Investigação Teatral há depoimentos dos espectadores sobre a tensão gerada no telefonema quando percebemos que aquela ligação não iria ser atendida. Quais dispositivos aproximam o coletivo do material apresentado? Quais escolher para compartilhar com o espectador? E de que maneira as experiências pessoais ecoam na história coletiva?
   Essa “presentação” coloca em cheque o papel do espectador tirando-nos do mero papel de observador para nos colocar como testemunhas. E surge a indagação: qual o papel político de cada espectador em nossa históriapolítica recente, que se faz presente diante dos nossos corpos? E para o grupo, qual o papel do espectador na retomada/reapresentação dessa narrativa?


Manhã do dia 11/08 e a divisão das funções teatrais


    A Maldita Cia. de Investigação Teatral, condutora do projeto, trouxe para esta manhã a divisão por funções teatrais: atuação, dramaturgia e direção. A ideia é de fortalecer cada função na tomada de decisão para os encaminhamentos do processo, já que os coletivos farão a abertura de seus trabalhos ao público geral em novembro de 2024. O encontro por funções também tem o intuito de fortalecer as premissas de trabalho das respectivas áreas, verticalizando as funções. Pude acompanhar o núcleo de atuação, coordenado por Elba Rocha.
    As atrizes do Morro Encena compartilharam sobre a sabedoria do tempo e a qualidade de como usarem, a partir de agora, o tempo que possuem para a criação cênica com a dinâmica da vida, já que cada uma se desdobra em tarefas diversas, conjuntamente com o trabalho de atriz. 
Uma das atrizes trouxe a angústia sobre não possuir personagem, e sentir falta do texto, fazendo com que se sinta deslocada e pouco propositiva na criação. Essa percepção é interessante por revelar um aspecto da criação colaborativa em que o texto/personagem não necessariamente está desde o início do processo. A ausência de texto ou personagem desde o início do processo é angustiante para muitos atores, principalmente para aqueles que se formaram em processos em que a personagem é o eixo do seu trabalho. E se veem deslocados até o momento de encontrarem a personagem. 
     O Artilharia Cênica incorporou na atuação uma nova atriz, que ampliou o trabalho atoral, permitindo novas dinâmicas na manipulação dos objetos a serem animados. Perceberam, com a entrada da nova atriz, uma potencialidade sonora para o espetáculo, dada a expertise dela nessa área. Esse é outro dado interessante da criação colaborativa por permitir, ou evocar, as potencialidades de cada criador dentro do processo. As habilidades construídas e trazidas por cada pessoa no processo ganha em dimensão e evidencia o eco criador de cada integrante do coletivo.
      Os atores dos grupos Caras Pintadas e El Individuo disseram da experimentação pela relação entre os atores para este trabalho, assim como no levantamento do material para a cena, buscando repertório atoral no diálogo com a dramaturgia. Dramaturgia essa já elaborada e que, segundo os atores, é uma camada que não surpreenderá o núcleo de atuação, já que ao não fazerem o uso da palavra estão explorando a mímica e gags dos palhaços. 
       Os atores da Maldita Cia. de Investigação Teatral falaram do programa performativo que coloca em risco esse tipo de atuação e o quanto a música tem sido explorada como um dado de sobrevivência, tal como o foi no cantarolar da senhora que recebeu a ligação. Em termos de reparação histórica mostraram o quanto a denúncia ao torturador, trazida nas reportagens apresentadas e lidas durante a mostra, é uma escolha política do coletivo. Outros atores falaram dessa preocupação e possibilidade de represália, nos dias atuais, ao reapresentar o torturador da época. Uma questão se apresenta aos artistas de agora: existe arte sem risco?

 1. As gags de palhaços são esquetes cômicas curtas e visuais, projetadas para provocar risos através de ações exageradas, situações absurdas e humor físico. Elas são uma parte essencial da arte do palhaço, combinando elementos de mímica e improvisação. 

2.  Os palhaços Augusto e Branco são dois arquétipos clássicos na arte da palhaçaria, cada um com características distintas que contribuem para a dinâmica e comicidade apresentadas.

Palavras finais (mas não finalizadas)


Anderson Feliciano, dramaturgo da Maldita Cia. de Investigação Teatral compartilhou com os presentes algumas propostas que ampliam a noção de dramaturgia a fim de potencializar para os coletivos algumas escolhas nesse caminhar final, que vai ao encontro do espectador. 
Foi bonito participar da discussão de cada cena, por conhecer os meandros de elaboração da mesma, assim como a ideia de cada encenação no trabalho em construção (working in process).
As indagações trazidas por artistas aos coletivos dizem respeito de várias ordens, desde a escolha mais consciente de encaminhamentos dramatúrgicos, quanto do apontamento de caminhos para a encenação que está a cada encontro afinando o material que será partilhado com o grande público.
Os momentos de partilha e generosidade de cada coletivo, ao abrir seu processo e ouvir apontamentos sobre o que mostrou, revelam o quanto a força do trabalho coletivo implica escuta, escolhas e aposta de que o melhor para o trabalho tem sido feito, no tempo e condições presentes.
Vamos aguardar o que está prestes a surgir.


Evoé!
 

artilharia cênica

outono_ maio 

A CRIAÇÃO – Mês de MAIO de 2024

Até o momento, todos os nossos projetos artísticos foram direcionados ao público adulto. No entanto, há pelo menos um ano, nutrimos dois desejos que se relacionam: criar uma produção para todas as idades e conceber um espetáculo de rua. Com esses objetivos em mente, iniciamos uma jornada de pesquisa e exploração sobre possíveis temas que desejávamos abordar artisticamente, e chegamos em alguns questionamentos cada vez mais urgentes para nós: para onde estamos nos encaminhando emocionalmente em uma sociedade onde as crianças já nascem imersas em um mundo digital, expostas a uma infinidade de telas e realidades virtuais? Qual é o custo, presente ou futuro, de investir tanto em uma existência online? Até que ponto estamos dispostos a explorar a fusão entre humanos e máquinas?

Explorando os temas que orbitam essas indagações - como máquinas, robótica, inteligência artificial, dispositivos eletrônicos e a economia da atenção - nos deparamos com um conto de E. T. A. Hoffmann, escritor alemão do século XIX, intitulado "O Homem da Areia" (1887). Surpreendentemente, mesmo escrito há 137 anos, o conto já abordava a paixão de um dos personagens por um autômato, um dispositivo com aparência humana. Fascinados pelas inúmeras possibilidades dramatúrgicas que esse conto proporciona e pelas ilustrações provocativas de Eduardo Berliner na edição mais recente, percebemos imediatamente a oportunidade de incorporar técnicas do teatro de formas animadas ao nosso trabalho para representar personagens, formas ou situações inspiradas no conto.

Um dos integrantes do grupo traz consigo tanto experiências acadêmicas quanto práticas no campo do teatro de formas animadas, incluindo um espetáculo com a renomada artista Eros P. Galvão. Certo dia, este integrante fez a proposta de que Eros, diretora, atriz, manipuladora de bonecos e bailarina da Cie Les Trois Clés, assumisse a direção deste processo de criação cênica. Tanto ela quanto os demais membros do grupo acolheram a ideia com entusiasmo, e agora ela se junta a nós para dar vida a este projeto de criação, que está ganhando cada vez mais forma e substância.

O conto fantástico de Hoffmann, "O Homem da Areia", servirá como uma das referências para nossas criações textuais, movimentos e visualidades. Sua narrativa surrealista e

fantástica estimula nossos sentidos, emoções e imaginação de uma forma singular, e é exatamente essa atmosfera que buscamos trazer para a cena e para a relação com nossos públicos.

outono_ junho 

inverno_ julho 

inverno_ agosto 

Nosso homem da areia, personagem desta história, tem ganhado mais contornos. O limite entre o sonho e a realidade atravessa não só a temática de construção criativa deste espetáculo, que nos convoca a pensar sobre o consumo excessivo de telas, como também nos desafia a entender dramaturgicamente o que é real e onírico.  

Onde está a menina que sonha? 

E o que sonha?

Há! 

primavera _ setembro 

♪♫ No relógio tem
Marca de areia
Durma meu neném
Sempre após a ceia

Olha lá quem vem
Já meia noite e meia
Durma meu bebê
À luz da tela cheia ♪♫

 

Levando o que tem pronto do cenário para cima e para baixo na kombi do seu Nilson... fazendo molde, em gesso, do rosto dos atores para fabricar máscaras... decidindo os tecidos dos figurinos... fazendo ensaio fotográfico, mirando a divulgação das apresentações... e claro, ensaiando... ensaiando... ensaiando...
O mês de setembro foi um mês em que tomamos muitas decisões importantes, experimentamos muitas outras possibilidades e começamos a ver, finalmente, contornos mais nítidos do espetáculo tomando forma.

primavera _ outubro 

Ver, sentir e ouvir as formas e contornos do nosso espetáculo tomando cada vez mais consistência. Mais profissionais se juntando à nossa equipe. A antiga boneca dando lugar a uma nova que nos instiga, provoca e encanta. Nossa trilha sonora está nascendo. Nossos figurinos dos croquis para os corpos dos atores. Linha por linha, movimento por movimento, verso por verso, melodia por melodia. Cada hora preciosa de ensaio. Cada descoberta que fica. Cada descoberta que vai embora. Cada descoberta que diz até logo. Dramaturgia quase fechada, quase. 

 caras pintadas & cia el individuo

outono_ maio 

outono_ junho 

Questionando a Máscara 

A partir dos primeiros encontros, cuja temática foi a elaboração coletiva dos desejos a partir dos núcleos de trabalho em direção à atuação e produção, decidimos buscar gatilhos, palavras-chave ou detonadores para a elaboração individual dos criadores. No caso da direção do espetáculo defunto só presta morto (nome provisório), o detonador foi a máscara teatral, mas não qualquer máscara, e sim a menor máscara do mundo: o nariz de palhaço, como gostam de designar alguns adeptos da metodologia do francês Jacques Lecoq.

Do ponto de vista da direção, o trabalho com a máscara de palhaço é sempre um desafio elevado à última potência, já que o Clown, figura marginalizada baseada no bêbado, no louco e nos excêntricos da comunidade, tem uma especial tendência à anarquia e, por que não dizer, à rebelião contra o sistema. Essa rebelião nem sempre é consciente e se expressa na própria incompetência do atuador em realizar uma ação de forma concisa. O palhaço falha, tenta de novo e falha mais uma vez, e é dentro desse erro que ele vai descobrir qual é o seu modo de lidar com o fracasso absoluto, seja pela emoção ou pela invenção de outro modo de ressignificar sua existência no mundo.

O lendário palhaço de rua argentino Chacovachi, em sua tipologia específica dentro da arte da palhaçaria, costuma dizer que o palhaço é o pior ator do mundo, e que muitas vezes é incapaz de realizar uma ação de forma precisa e formalmente correta como faria um ator. Daí ele deriva a diferenciação entre o palhaço e o Clown. Segundo ele, o Clau seria uma figura gerada a partir das escolas de teatro e do trabalho de atores habilidosos que se dedicam à criação de uma personagem com psicologia rica e visual refinado, enquanto o palhaço seria fruto de uma vivência direta e precária muitas vezes, de artistas que buscam sua sobrevivência no jogo com a rua e com a comicidade, sendo entre esses últimos o lugar onde Chacovachi se situa. No atual projeto, o grupo Circo Teatro El Indivíduo e o Grupo Caras Pintadas de Teatro Circo Música buscam o trabalho do palhaço em seu refinamento de gesto, dramaturgia e criação psicológica, trazendo na bagagem toda a malícia e a vontade de viver do palhaço de rua. Quais caminhos tomarão de assalto as marcas e como direcioná-los, eis a questão.

Dia a dia de ensaios

A partir das provocações do diretor acerca do texto escrito por Fernando Limoeiro, a busca da criação por uma atuação através do gesto tem sido um grande desafio. Expressar as profundas camadas do texto sem o uso das palavras tem sido o norte do trabalho, que torna a pesquisa divertida, porém, complexa.

Neste momento o processo se encontra no ponto do levantamento já de todo o esqueleto do espetáculo. A partir de improvisações de cada trecho da história escrita pelo autor, chegamos a estruturas de 90% da linha narrativa do espetáculo. Já com indicações de objetos, materiais de cena, cenografia e trilha sonora. 


A próxima etapa do trabalho está situada na ampliação do diálogo gestual dentro da lógica da palhaçaria. Achar o tom de cada ação e aprofundar no diálogo gestual para compor as situações que compõem cada bloco do espetáculo. 

A busca das referências externas, e nas memórias das vivências dos artistas, tem cada vez mais contribuído para o processo de criação. Perguntas importantes tem provocado um minucioso processo de pesquisa. Como criar um trabalho cheio de detalhes, com um apelo visual grandioso, que caiba dentro de três malas? Quais as cores expressam os tons de cada cena? Os tempos do espetáculo são marcados por micro-blocos e blocos de 1,2,3. Que tempos são esses? Como dizer determinada frase somente com a ação interna ou um gesto limpo? Como garantir uma estrutura cenográfica que além de dialogar, esteja a serviço do gesto e não o contrário? Quais objetos de cena são primordiais e justos a atuação?

 

Seguimos na busca.

inverno_julho 

Em busca de uma dramaturgia do gesto 

A tônica do presente processo tem sido a acumulação de material. Do nada, nada vêm. E da mesma forma, buscamos o máximo aproveitamento dos materiais criados pelas diversas frentes - dramaturgia, direção, figurino, e atuação. O ponto de vista do diretor no processo colaborativo, mais do que um demiurgo que centraliza todos os fatores da criação, é o de um mediador e organizador das diversas visões artísticas, equalizando os discursos em direção de uma obra conjunta final. Nesse sentido, tem sido extremamente gratificante e pedagógico o processo de montagem do espetáculo “Crime no Circo” (nome provisório).

A natureza processual da criação é soberana sobre as visões individuais, o que se manifesta inclusive no título provisório da obra. O tom bem humorado e jocoso do texto matriz aos poucos foi tomando uma tonalidade mais sombria, onde as condições materiais e o dia a dia dos artistas enquanto trabalhadores lumpen nos desvela uma realidade bem menos onírica e caricata do que a princípio se anunciava.

Entramos agora em uma fase onde a materialidade é rainha. Os objetos invisíveis e as marcações do tipo “imagina que aqui tem um um baú” aos poucos caducam, enquanto a cena exige cada vez mais concretude. Dessa forma, nos encontramos com os saberes da cenotécnica, da costura e da construção de truques e ferramentas da profissão, nos lembrando que aquilo que se passa na cena foi pensado, burilado e construído com saber artesanal por vários profissionais nas coxias e no entorno do edifício teatral.

 

RODRIGO

Dia a dia de ensaios

A partir das provocações do diretor acerca do texto escrito por Fernando Limoeiro, a busca da criação por uma atuação através do gesto tem sido um grande desafio. Expressar as profundas camadas do texto sem o uso das palavras tem sido o norte do trabalho, que torna a pesquisa divertida, porém, complexa.

Neste momento o processo se encontra no ponto do levantamento já de todo o esqueleto do espetáculo. A partir de improvisações de cada trecho da história escrita pelo autor, chegamos a estruturas de 90% da linha narrativa do espetáculo. Já com indicações de objetos, materiais de cena, cenografia e trilha sonora. 


A próxima etapa do trabalho está situada na ampliação do diálogo gestual dentro da lógica da palhaçaria. Achar o tom de cada ação e aprofundar no diálogo gestual para compor as situações que compõem cada bloco do espetáculo. 

A busca das referências externas, e nas memórias das vivências dos artistas, tem cada vez mais contribuído para o processo de criação. Perguntas importantes tem provocado um minucioso processo de pesquisa. Como criar um trabalho cheio de detalhes, com um apelo visual grandioso, que caiba dentro de três malas? Quais as cores expressam os tons de cada cena? Os tempos do espetáculo são marcados por micro-blocos e blocos de 1,2,3. Que tempos são esses? Como dizer determinada frase somente com a ação interna ou um gesto limpo? Como garantir uma estrutura cenográfica que além de dialogar, esteja a serviço do gesto e não o contrário? Quais objetos de cena são primordiais e justos a atuação?

Seguimos na busca.

inverno_agosto 

 maldita cia de investigação teatral

outono_ maio 

"O passado, ainda que pareça imóvel, nunca para de se mover." _ Rodrigo Fresán, O fundo do céu

des-encarcerar memórias

TRANSIRE, “cruzar, atravessar”


A travessia vai e vem.
Um de seus começos é em 2018, quando gestamos a residência “Banho de Sol”, no prédio que abrigou o DOPS na ditadura militar, e tantos outros cárceres em seguida (um tanto dessa história está contada aqui: www.malditacia.com/abordodotranse).
Começa outra vez quando Amaury encontra Carmela, Lenine olha o futuro do filho, Elba encontra uma avó, Anderson encontra a mãe, Morgana encontra os pedaços de gengibre, Vini encontra o pai, Ricci encontra os gatos, Natália encontra o avião, Emely encontra uma cervejinha no fundo da geladeira, Ad encontra O Guarani, ou etc. ou etc. ou etc.
Desde lá, espiralamos em torno desse território _ memórias de terror, desobediência e ternura.

outono_ junho 

.dar de cara com o muro.

inverno_julho

.dar a volta no muro.

inverno_agosto

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Iniciamos morada na casarona, Espaço Comum Luiz Estrela. Lugar  de memórias, e lugar de cuidado com as memórias coletivas desse lugar onde vivemos. O que nasce nesse encontro? Quais conversas fazer com essa arquitetura viva, em pleno movimento?

primavera_setembro

Espaço Comum Luiz Estrela , lugar banhado de luz e acalentado por um jardim com rede pra deitar, onde se pode receber uma visita. Esse espaço possibilitou o acontecimento do Sarau, que desde o início sonhávamos. O programa é simples, Ler e cantar o Relatório da Comissão da Verdade em Minas Gerais.

Esse encontro, em sua luminosidade, aponta caminhos possíveis para o trabalho. Gentes que chegam e, com suas histórias, dão sentido ao que estamos fazendo. Uma roda onde se lembra e se canta. Uma transmissão, que reverbere para outras fronteiras.

Assim chegamos em um roteiro base do acontecimento, tecendo o pessoal com o público, o documento e a memória, terror e ternura.

Entretanto, outras bases do trabalho carecem da escuridão. Por isso, nos despedimos por hora do Luiz  e sua Estrela, agradecidos pelos caminhos que encontramos por lá, migramos os ensaios para um novo lugar (guardando a memória do antigo).

primavera_outubro

Agora cortinas nas janelas, paredes e chão pretos. O processo vai residir no Teatro 171.

Com breves visitas ao Galpão Cine Horto, nas salas de paredes brancas onde esse projeto se encontrou por primeira vez em maio/24, e mesmo antes, em fevereiro/2019.

A câmera está em cena

  morro encena

outono_ maio 

outono_ junho 

Diário de Borda

 

Iniciamos nossos trabalhos em meio ao caos. Engraçado como ele sempre é bem vindo. Desde a oficialização da seleção para o projeto, a divisão de cargos, uma possível forma de se fazer. De imediato, como tudo que é novo, causou desconforto, desconfiança, mas como no dito popular “quem tá na chuva, tem que se molhar”.

Tratando-se de uma proposta, que apresenta uma possibilidade de se ser um processo colaborativo. Pusemo-nos a seguir a cartilha apontada. Dividindo-nos, enquanto grupo, nos núcleos e funções estabelecidas. Por mais colonizada que tal nos pode parecer.

Quando digo colonizada é mais no sentido de se partir de um único ponto de vista, ou verdade absoluta do como se fazer, como se portar. De algo que pra nós é tão plural.

O jeito de ator de ser, de dramaturgo, diretor. Está sendo um desafio, frente a organicidade de um grupo que vem desenvolvendo seu fazer de forma tão múltipla e orgânica. Apreendida ao longo de anos. Enfrentando imposições sociais, financeiras que dentro de uma realidade colonizada que, por si só, não nos permite existir.

Posto o incomodo e escurecendo os fatos. Aceitamos o convite, de peito aberto, com desejo de colaborarmos na construção desta ideia de colaboratividade. Abrindo as portas de nosso laboratório de ensaio, no intuito de, ao compartilharmos nossos fazeres demonstrar novas perspectivas, rever perspectivas consolidadas, entendendo mais profundamente, nosso jeito favelado, decolonizado, de se fazer teatro.

Optamos revisitar uma obra já desenvolvida ao longo da trajetória do grupo intitulada Fia Fea de Delegado. Num movimento já iniciado com o ultimo trabalho desenvolvido pelo grupo Filhas da Terra. O qual inicia este movimento de revisitação do nosso repertório.

Funções definidas, “banda gira”, desde o primeiro encontro do projeto, a ideia de elaborar um novo texto, partindo de algo já feito. Se fez bastante nítida entre nós.

Ao experimentarmos, entre nossos pares, o retorno das impressões e também um melhor entendimento sobre a proposta do projeto em si, nos demonstraram a potencialidade da idéia.

Tratando-se de um texto estruturado dentro da estética popular do Casamento da Roça. E que surge dentro deste contexto de festividade junina. Numa conversa entre os setores de Dramaturgia e Direção optamos por atualizar os discursos presentes na história e estabelecemos um arquétipo para as personagens, de modo a provocarem reflexões socio econômicas e que relacionassem à dinâmica atual entre religiões protestantes e o tráfico de drogas.

A escolha Bar enquanto local de atuação é devido a forte presença, deste tipo comercial, não somente na comunidade a qual pertencemos e que procuramos divulgar, quanto em outros espaços, fazendo do Bar um patrimônio cultural, pelo menos pro povo mineiro.

Outro ponto discutido foi a musicalidade que traríamos para este ambiente. A imagem da Junk Box era algo que não conseguíamos deixar de pensar por resolver questões técnicas de trilha, estéticas e afins. Neste tema algo que começamos a perceber foi que, inicialmente estávamos nos limitando ou generalizando o ritmo brega. Percebemos entre nós que, devido ao recorte geracional, entre os componentes do grupo, o conceito de brega era bem discrepante ao ponto em que, desconsideramos este estilo e optamos pelo conceito de música de Buteco, ampliando o repertorio e possibilitando transições geracionais, de modo a possibilitar uma melhor aceitação e ou aproximação com o público.

Após esta estruturação dramatúrgica partimos para sala de ensaio onde iniciou-se o processo de desenvolvimento, experimentações dos arquétipos inicialmente idealizados para as personagens.

Uma imagem que me faz refletir sobre este momento é como no início de uma gira. Onde o Pai de Santo toca os tambores pro santo descer, aos poucos o rodante iniciante vai se sensibilizando à energia daquela entidade que chega, caminhando rumo a conexão ou seja as atrizes, sensibilizadas pelos estímulos induzidos pelo diretore vão se conectando com  energia psicofísica das personagens presentes no todo, que nos cerca.

 

Agora rumamos para o encontro com a dramaturgia. Que vem sendo desenvolvida, frente a todos estes estímulos, experimentos, vislumbris ao encontro desta história que pretendemos contar. 

 

Falar de processos criativos em si e processos colaborativos em “sis”, a meu ver, me parece um tanto o quanto

  equipe cena 3x4 2024

Provocadores de processos:

Amaury Borges (direção), Anderson Feliciano (dramaturgia), Lenine Martins (Atuação), Sinara Telles (produção)

Convidades para Conversas 3x4:

Chico Pelúcio, Eleonora Fabião, Ricardo Carvalho de Figueiredo

Produção:

Ricelli Piva e Vinícius Bicalho

Coordenação de projeto:

Elba Rocha

Assessoria de Imprensa:

Cristiana Sanchez

Redes sociais:

Paloma Morais

Programação visual:

Elba Rocha

Encontrão
Artilharia Maio
Caras Pintas e El Invididuo Maio
Maldita Cia Maio
Morro Encena Maio
Equipe

apresentação

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parceria

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realização

este projeto foi fomentado pelo PROGRAMA FUNARTE  E APOIO A AÇÕES CONTINUADAS 2023 

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